terça-feira, 2 de novembro de 2010


Certa tarde falaram-me para-me calar
pela noite falei            -
ouviram-me
a dor encontrou meu corpo...
Mandaram-me não gemer            - berrei
desamarraram-me as mãos
silentes num aplauso oco
que faziam cair os dedos
um a um a minha frente;
os dedos não choravam mais...
Olhavam a tudo
e, então, cegaram meus olhos;
ingeri forçosamente soda cáustica
e o silêncio negado era corroído...
Falei novamente e deceparam minha língua
ainda assim, sorri...
Viram meus dentes
fizeram-os despencar nos colares dos bárbaros.

Proibiram-me de andar
forcei dois passos
quebraram-me as pernas.
Caí sobre os joelhos e depois
a leste do corpo e do espaço...
Permaneci até que a alma revivesse
até que as mãos e os dedos
corressem aos punhos, e o sangue movimentasse a fonte
até que um escuro clareasse os caminhos
até que meu estômago, meu fígado, meu esôfago, meu intestino, meu coração
se reanimassem

até ontem, quando me fiz esquecimnto e vermes.
Imprimo a nudez das coisas, tão revestidas pelo grande medo de homens levianos em abandonar receituários detinados a gantir a grande explosão da felicidade. Fodam-se as prescrições! Não arrisco tornar a vida novamente inflada, como fora antes de abarcar no cais do porto, em primeira viagem que fiz, em algum tempo já distante. Não!... das mãos de muitos que constroem os conceitos com argamassa e piche não quero afeto: as quero entregues em chão de terra, para que esta vida que se desdobra e se reflete na alma, essência em si, abarque em um sopro: um sopro interior. Se vive ou Se morre.
alguns dias secos
acumulando partículas de terra judiada,
feita em pó, ...

onde passarão somente os andarilhos

com seus pés resistidos ao tempo,

às agressões, ...

enquanto,
direcionados movimentos,
jamais pré-concebidos
ou pré-dispostos,

submergem o espaço,
anunciando as fontes escondidas

alagando o interior

encontrado num

mergulho
.
A tempestade anuncia
carrega o dia em cinza
entoa o azul nos entardeceres
arrepia os ossos
estica os poros do corpo
silencia os pássaros
que olham a cidade
espreitada nas vielas sub-humanas
até que se apavorem
telhados jardins quintais
e as pálpebras encostam nos
cílios postiços de uma chuva
que não cai
despenca
desaba em volume
nivelando o riacho
ao lado da casa
curvando a encosta
onde deslizou o coração.
o sol suspende-se
incinerando a terra
correndo a retina
num rio de beleza
quando do conhecimento próprio
a mim pertenço
neste deserto
neste
sem
fim
complexo

sou rei servo dentista
sou um num vale
perdido e encontrado
sou enfim o criado
em mim
me escolho
pois a tudo nos servem os extremos
alongando a vida
ao mais distante possível
enquanto a morte
ataca os órgãos
num riso tremente